O Cinema na Última Década: Um Mosaico de Transformações e Tendências

O cinema, essa fábrica de sonhos que nos encanta há mais de um século, tem sido palco de inúmeras metamorfoses, algumas efémeras, outras com um impacto duradouro. Quem não recorda a revolução do cinema sonoro, impulsionada por filmes como “O Cantor de Jazz”, um marco que alterou para sempre a indústria? As tendências cinematográficas nascem de ousadias, de riscos assumidos na esperança de criar impacto, com resultados nem sempre auspiciosos. Neste olhar retrospetivo, debruçamo-nos sobre algumas das tendências que marcaram a década de 2010 e que moldaram o cinema como o conhecemos hoje.

A Ascensão Exponencial dos Efeitos Visuais (VFX)

A tecnologia e o cinema sempre trilharam um caminho lado a lado, influenciando diversas etapas da produção e pós-produção. Novas câmaras, técnicas de filmagem inovadoras, efeitos visuais cada vez mais sofisticados, colaboração pós-produção facilitada – tudo evolui a um ritmo vertiginoso para tornar a criação cinematográfica mais fluida e imersiva. Uma das tendências mais marcantes da última década, e que gerou um burburinho considerável, foi o desenvolvimento da recriação facial, dos humanos digitais e das tecnologias de rejuvenescimento.

A saga “Star Wars” foi pioneira na exploração destas ferramentas complexas, utilizando-as em “Rogue One” para rejuvenescer Carrie Fisher como a Princesa Leia e para recriar o falecido Peter Cushing no papel de Grand Moff Tarkin. Vemos estas tecnologias a serem incorporadas em cada vez mais produções, de “As Tartarugas Ninja” a “Warcraft”, passando por “O Irlandês” e “Capitão América”.

Outra tecnologia que ganhou destaque nos últimos anos são os estúdios virtuais e a utilização de Game Engines na produção cinematográfica. Estas ferramentas revelam-se extremamente versáteis na recriação de ambientes, com a grande vantagem de operarem dinamicamente e em tempo real, permitindo aos atores reagir de forma mais genuína a cada cena. Acrescente-se a isto a aceleração que esta tecnologia pode proporcionar ao processo de produção de vídeo.

A Revolução do Streaming

A ascensão meteórica dos serviços de streaming como Netflix, HBO Max, Disney+ e Amazon Prime na última década transformou radicalmente o comportamento dos consumidores. Estas plataformas de vídeo a pedido (VOD) tornaram o consumo de filmes e séries televisivas muito mais conveniente. Os espectadores podem agora escolher o que assistir, quando quiserem e ao ritmo que desejarem. O termo “Binge Watching“, que se refere à maratona de vários episódios de uma série de televisão seguidos, tornou-se comum e popular, testemunhando a influência avassaladora que os serviços de streaming exercem atualmente.

Para se manterem relevantes neste cenário competitivo, cada um destes serviços VOD precisa de se diferenciar dos restantes para expandir a sua quota de mercado. Para tal, muitos iniciaram a produção de conteúdo original exclusivo para as suas plataformas. A Netflix destaca-se neste campo com séries de sucesso como “Stranger Things” e filmes como “O Irlandês”, que lhe valeram prémios prestigiados como Globos de Ouro e Óscares, um feito impensável há dez anos!

A Urgência da Diversidade

A cultura “Woke” teve um impacto significativo no panorama social da última década, e o cinema não foi exceção. Um dos pontos altos desta mudança foi a campanha #OscarsSoWhite durante os Óscares de 2015, que desafiou a indústria cinematográfica pela sua predileção por atores brancos. A mudança já estava em curso, mas não avançava com a rapidez necessária até então. É certo que as coisas não são perfeitas hoje, mas a mudança é palpável e os produtores começam a perceber que o público acolhe novas caras de todo o espectro da sociedade. Filmes de sucesso como “Black Panther” e “BlacKkKlansman” são a prova de que tanto a indústria como o público caminham rumo a um retrato mais diverso e representativo.

A Proliferação de Remakes

A refilmagem e a reimaginação de filmes não são novidade, mas na última década intensificaram-se a um ritmo sem precedentes, como se Hollywood estivesse a ficar sem ideias originais ou receasse assumir riscos. Alguns remakes são justificáveis e até bem-vindos, como a oportunidade de revitalizar um filme que não teve sucesso na sua época original, com novas mentes a unirem-se para lhe dar uma nova oportunidade, a exemplo de “Dredd”, que recebeu uma refilmagem decente em 2012. Romances e banda desenhada também são frequentemente alvo de remakes e reimaginações, o que geralmente é aceite. “It – Uma Obra-Prima do Medo” foi uma reimaginação bem-sucedida do romance de Stephen King, que procurou inovar com o material original, mantendo-se fiel à sua essência.

No entanto, uma tendência que muitos consideram negativa na década de 2010 foi a refilmagem de obras-primas já consagradas, por entenderem que se trata de um esforço preguiçoso para lucrar com um produto já comprovado. A Disney é a principal culpada neste aspeto, transformando os seus clássicos intemporais em filmes live-action genéricos como “O Livro da Selva”, “Aladdin”, “O Rei Leão”, entre outros.

A Era de Ouro dos Filmes de Super-Heróis

Hoje em dia, é difícil imaginar que houve um tempo, não muito distante, em que os filmes de super-heróis, especialmente os baseados em banda desenhada, eram considerados banais e de má qualidade. Algumas exceções existiram, como os dois primeiros filmes do Homem-Aranha de Sam Raimi ou “Matrix”. Mas tudo mudou quando a Marvel Studios decidiu produzir o primeiro filme do Homem de Ferro, em 2008. No entanto, o sucesso consolidou-se durante a década de 2010, com um ou outro deslize aqui e ali.

Mas, para além disso, os filmes de super-heróis foram um sucesso atrás do outro, dando aos produtores mais confiança para investir nas franquias. A DC também começou a construir o seu próprio universo cinematográfico de super-heróis, com alguns êxitos como “Mulher-Maravilha”. E não foram apenas a Marvel Studios ou a DC a produzir bons filmes de super-heróis; outras franquias também tiveram um bom desempenho durante a década, como “Kingsman”, “Kick-Ass” e “Scott Pilgrim Contra o Mundo”. Em suma, a última década foi um período áureo para os filmes de super-heróis, e não parecem estar a abrandar tão cedo.

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