Islândia: Entre o mito e a realidade

O fascínio pela Islândia, frequentemente pintada como uma quase-utopia, é perfeitamente compreensível. Um país onde a educação e a medicina são gratuitas, não há McDonald’s, e a confiança social é tão elevada que ninguém se preocupa em trancar carros ou casas. Embora muitos destes pontos reflitam aspetos admiráveis da sociedade islandesa, é útil olhar para eles com um misto de admiração e algum realismo.

A Islândia, essa ilha nórdica de pouco mais de 330 mil habitantes, de facto destaca-se pelo seu sistema de bem-estar social. A educação e a medicina são amplamente acessíveis, financiadas por impostos e sem custos diretos significativos para os cidadãos. As universidades públicas, por exemplo, não cobram propinas, o que torna o ensino superior extraordinariamente acessível. No que toca à saúde, o sistema é universal e de alta qualidade, garantindo que os cuidados médicos sejam um direito, não um luxo. A ausência de clínicas privadas é mais uma questão de falta de necessidade do que de proibição, dada a eficácia do sistema público.

A famosa ausência de McDonald’s no país é um facto curioso, resultado do encerramento da última loja em 2009.

A Islândia goza também de uma das taxas de criminalidade mais baixas do mundo, o que fomenta um ambiente de segurança e uma cultura de confiança social notável. É comum ver crianças a brincar sem supervisão constante ou carros destrancados, algo impensável em muitas outras nações.

A Islândia é um dos poucos países da NATO que não possui um exército permanente, dependendo da sua Guarda Costeira e de acordos de defesa com a Aliança Atlântica, incluindo a possibilidade de os seus cidadãos se juntarem ao exército norueguês. Esta opção pacifista sublinha a sua identidade única no cenário global.

Outras particularidades, como o profundo amor dos islandeses pela leitura, que os coloca no topo mundial em termos de literacia e publicação de livros, são um reflexo da sua rica cultura. A água da torneira, de qualidade excecional e proveniente de fontes geotérmicas, é gratuita em qualquer estabelecimento, um luxo que muitos apreciam. A cultura de confiança também se estende ao mercado de trabalho, onde, embora as referências sejam importantes, a formalidade de uma “carta de recomendação” pode ser menos rígida.

Contudo, é importante pincelar alguns detalhes para uma imagem completa. Embora a Islândia seja um país pioneiro na democracia eletrónica, com forte uso de ferramentas online para consulta e processos administrativos, a votação em eleições nacionais não é realizada online, mantendo-se os métodos tradicionais por razões de segurança e integridade eleitoral. No que diz respeito a ser “muito conservador” sobre o casamento, a Islândia é, na verdade, um país socialmente progressista, líder em direitos LGBTQ+ e igualdade de género, o que contraria uma visão mais tradicional de conservadorismo. Por fim, o aquecimento urbano é quase universal e extremamente acessível devido ao uso da energia geotérmica, mas não totalmente “gratuito” no sentido estrito, pois há custos de manutenção e distribuição que são pagos pelos consumidores, ainda que a preços muito reduzidos.

O aumento exponencial do turismo nos últimos anos é um facto inegável, com o número de visitantes a exceder largamente a população local. Este fenómeno trouxe prosperidade, mas também desafios para as infraestruturas e para a sustentabilidade ambiental da ilha.

Em suma, a Islândia é um país extraordinário que, em muitos aspetos, parece concretizar um ideal de sociedade. A sua aposta em energias renováveis, num sistema de bem-estar robusto e numa cultura de confiança social torna-a um exemplo inspirador. Embora a realidade tenha as suas nuances e desafios, a essência do “sonho islandês” permanece um poderoso lembrete do que é possível alcançar.

https://www.government.is/

https://island.is/en

https://www.visiticeland.com/

https://www.statice.is/

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